A TRISTE SITUAÇÃO DO RIO BURITICUPU, NO MARANHÃO
Das nascentes à foz, o quadro é de uma agonia, uma morte lenta... Por Isaías
Neres
Não é fácil ver o rio Buriticupu de perto,
ouvir o
fraco barulho de suas correntezas¸ descendo lento e timidamente entre as
serras. Perdendo o pouco que resta do seu cobertor natural, e se dirigindo num
percurso incerto. Não é fácil tocá-lo, pois, por mais que seja superficialmente
dar pra sentir seu estado doentio. Assim, automaticamente nos faz lembrar quando
tinha suas águas cristalinas. Ver a situação nos entristece terrivelmente, mas
não tira de nós o desejo de ajudá-lo, de empreender a nossa força em seu favor,
sempre acreditando na sua recuperação. Rio Buriticupu, dois principais tipos de
pessoas devem cuidar de você, com muito mais dedicação, uns que moram no teu
caminho e outros que apesar de não morarem tão perto tem o poder de te ajudar.
Temos percorrido o mesmo caminho que percorres¸ e temos visto os obstáculos
enfrentados. Tens tentado passar em lugares bloqueados, onde te fizeram
represar e mudaram radicalmente o ter percurso. Ao longo desse tempo fizeram de
tudo. Cortaram, venderam, trocaram e queimaram pedaços do teu cobertor em
vários lugares, e assim, teus peixes e outras criaturas que habitam em ti não
resistem o calor. As situações degradantes estão à tua esquerda e direita. De
um lado não se encontram mais o Buriti, nem tampouco o cupu que medrava de suas
matas. Por outro lado, percebe-se que nem mesmo o Bom Jesus conseguiu manter
suas selvas. Dando lugar ao alimento dos bovinos ou das siderúrgicas. Nem mesmo
no teu berço tens tido tranquilidade para viver em paz. Nem os silvícolas, que
te deram esse nome, e que convivem há muitos anos contigo têm tido o devido
carinho com o teu cobertor. Tu tens bebido veneno em grande quantidade vindo
das plantações como: hortas e plantios de eucaliptos. Esse veneno mata teus
peixes, além de causar enjôo dores de cabeça e outros males. Para construção de
edificações, retiram materiais do teu piso, onde tu corres deslizante até a
foz. Rio Buriticupu o teu piso e tuas paredes são arrancados com máquinas
motorizadas coordenadas por outras máquinas egoístas e mercantilistas ao
extremo, que agem pela força do imediatismo. Nota-se também que ao te
alimentar, os teus braços não estão mais com a mesma força de outrora. A
quantidade e qualidade de alimento oferecido pelas fontes que formam os teus
braços estão comprometidas. Outras criaturas atípicas e alheias a tua vontade
estão morando dentro de ti, em casinhas improvisadas, enquanto engorda para
serem vendidas. Vários tipos de resíduos sólidos têm sido despejados sobre
você, e mesmo tentando se desviar não consegue se livrar da impureza e do odor
miserável que o leva consigo. As lavadeiras tiram a sujeira da roupa e deixa em
você. São impurezas que durarão décadas. Bem ali pertinho das lavadeiras estão
os que vendem nadadores e bebidas e sem uma gota de cidadania jogam todos os
dejetos, que servem de alimentos para outros nadadores. Sem quase sair do lugar
encontramos aqueles que querem economizar uns trocadinhos e deixar seus
veículos limpinhos colocando-os pra lavar e deixar substâncias químicas dentro
de ti. Como se não bastasse, basta olhar em direção a passagem de concreto que
liga os municípios e verás o mais recente absurdo: boa parte do material de
aterro utilizado na recuperação da BR 222 está sendo levado para tuas águas e
te sufocando. Querendo enterrar-te vivo. Já percebestes também que a quantidade
de pássaros que cantavam pertinho de você está diminuindo? Pois quando não dar
pra matar envenenado o que está contigo, matam através do fogo o que está
perto. Rio Buriticupu mantenha a esperança. O teu clamor foi ouvido pelo
Instituto Federal do Maranhão, e por outros parceiros. Saiba, que a tua
situação ainda tem jeito e que algo já está sendo feito em favor de sua
recuperação e preservação.