"Fui à Embaixada dos Estados Unidos e apresentei meus papéis", disse à Folha a médica cubana Ramona Matos Rodriguez, 51, que deixou o programa Mais Médicos e se refugiou no Congresso Nacional.
Clínica-geral, ela foi orientada por parlamentares da oposição a não revelar detalhes do contato com a embaixada norte-americana. A Folha apurou, no entanto, que a representação diplomática teria pedido um tempo para dar uma reposta sobre a sua situaçãoSérgio Lima/Folhapress | ||
A médica cubana Ramona Rodriguez, 51, anunciou que vai pedir asilo político ao Brasil |
A embaixada foi o primeiro destino da cubana ao chegar a Brasília, no sábado, após deixar Pacajá, no Pará.
Procurada, a embaixada dos Estados Unidos não negou nem confirmou o pedido de visto de Ramona ou de outros profissionais selecionados pelo Mais Médicos.
A MÉDICA
Ramona chegou a Brasília, no sábado, e passou pela Embaixada dos Estados Unidos. Depois foi orientada a aguardar uma resposta.
A médica teve a ajuda de uma amiga para sair de Pacajá de carro no último sábado. Na cidade, ela disse que tinha sido convidada para conhecer a roça de um amigo e que por isso sairia cedo de casa. Por volta das 7h, a amiga a buscou em casa e as duas partiram para Marabá, de onde embarcou em um voo direto até Brasília no mesmo dia. Ao chegar em Brasília, ela foi recebida por outra amiga.
Ela conta que ficou na casa de um amigo esperando uma resposta do governo americano, mas decidiu procurar o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) depois que foi informada que a Polícia Federal foi acionada para encontrar informações sobre seu paradeiro e já teria indicações de onde estava.
A médica diz que decidiu abandonar a cidade no sábado e seguir para a capital federal após descobrir que o valor de R$ 10 mil pago pelo governo brasileiro a outros médicos estrangeiros era muito superior ao que ela recebia pelos serviços prestados.
"Em Cuba eu não tinha internet e aqui tem muita informação. Então fiquei sabendo que fomos enganados. Fizeram um contrato para nós prometendo um dinheiro, mas quando vim para cá foi que me deu conta que não era assim", disse.
Ramona mostrou um contrato com a Sociedade Mercantil Cubana Comercializadora de Serviços Médicos Cubanos, indicando que não houve acerto entre o Ministério da Saúde e a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), conforme o governo brasileiro informou.
Ela alega ainda que ter sido enganada sobre a possibilidade de trazer seus familiares ao país.
A médica afirmou que já entrou em contato com sua filha, também médica, e disse que a família está muito preocupada com a sua situação. Ela disse temer também pela filha, que mora em Cuba.
A médica chegou ao Brasil em outubro. Ontem, ela passou a primeira noite no Congresso Nacional, na sala da liderança do DEM. Ela teria dormido em um sofá e não teria tomado banho.
"Eu pretendo ficar aqui [no Brasil]. E pedi a proteção do deputado [Ronaldo Caiado, ex-líder do DEM], porque eu temo pela minha vida. Estou certa que, se neste momento vou para Cuba, vou estar presa. Fui enganada pelo governo cubano", disse a médica.
Apesar de ter procurado a embaixada americana, a médica afirmou estar esperançosa para obter o asilo e poder continuar trabalhando como médica no Brasil e disse que faria o Revalida para poder atuar legalmente, mas fora do programa Mais Médicos.
No início da tarde de hoje, líderes do DEM, que abrigam a cubana, vão ao Ministério da Justiça entregar o pedido de asilo. O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) deve dar uma declaração à imprensa.
Vitrine eleitoral da presidente Dilma Rousseff, o Mais Médicos tem o objetivo de aumentar a presença desses profissionais no interior do país, em postos de atenção básica, e para isso permite a atuação de médicos sem diploma revalidado em território nacional.
Atualmente, cerca de 7.400 médicos cubanos estão selecionados para atuar no país, no universo de 9.549 médicos inscritos.
VENEZUELA
Médicos cubanos em missão na Venezuela também buscaram ajuda junto ao governo dos Estados Unidos. Há dez anos, Venezuela e Cuba firmaram convênio de cooperação para o envio desses profissionais, como parte do pagamento pelo petróleo venezuelano.
Em entrevista à Folha no ano passado, o presidente da ONG Solidariedade Sem Fronteiras, Julio Cesar Alfonso, afirmou que cerca de 4 mil profissionais já haviam obtido o documento norte-americano. A entidade, sediada em Miami, reúne cubanos da área de saúde que deixaram as missões em diferentes países.
Desde 2006, os EUA oferecem um visto específico para esses profissionais. O chamado CMPP (Cuban Medical Professional Parole Program) é ofertado a todo médico cubano que esteja estudando ou trabalhando em uma missão num terceiro país e que não possua "quaisquer inelegibilidades que impediriam a admissão" nos Estados Unidos, segundo o site oficial do programa.
"O serviço de imigração dos Estados Unidos pode exercer sua autoridade discricionária para permitir que cidadãos cubanos possam vir para os Estados Unidos", informa o governo norte-americano. Além de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e técnicos de laboratório, além de treinadores esportivos, também estão habilitados a solicitar o visto.
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