Por. Luiz Carlos Borges da Silveira
O carreirismo político no Brasil é um fato negativo para o
aperfeiçoamento da atividade, tornando-se empecilho ao surgimento de novas
lideranças, ou seja, de ideias renovadoras e modernizantes. Um dos segmentos
onde se instalou, nas Câmaras Municipais, é o que mais afeta a população por
ser o degrau inicial da política, pois o vereador é o primeiro representante
popular, o mais próximo da comunidade. Sem dúvida o profissionalismo político
nesse âmbito se deve aos altos subsídios e mordomias legais ou institucionalizadas,
aspectos que precisam ser reconsiderados, ainda que difíceis de enfrentamento
porque mudanças dependem dos legisladores, que são exatamente esses mesmos
políticos, sempre indispostos a decisões que ameacem o corporativismo.
A instituição de salários a vereadores começou efetivamente em 1977, no
regime militar. Antes, apenas vereadores das capitais recebiam subsídios.
Naquele ano o então presidente Ernesto Geisel sancionou decreto estendendo o
benefício, visando buscar apoio político das bases e também reforçar
politicamente o partido do governo. Gradualmente foram sendo estabelecidos
extensivos valores salariais e vantagens pecuniárias até o extremo a que
encontramos hoje. Em muitas cidades o salário dos vereadores é o maior do
município para uma ou no máximo duas reuniões, à noite, por semana, verdadeira
afronta ao operariado que trabalha oito horas por dia em sete dias da semana
recebendo insignificância em comparação ao integrante da Câmara instalado em
gabinetes climatizados e cercados de mordomias diversas.
Passou a ter
grande importância eleger-se (ou reeleger-se) para a Câmara Municipal. Para
manter o mandato o vereador usa apelo popularesco e se dedica em tempo quase
integral à assistência social, o que não é, em absoluto, sua função, todavia
ele se transforma em espécie de “despachante do povo” junto aos órgãos públicos
de atendimento social que aceitam e facilitam a intermediação porque o prefeito
também depende do apoio do vereador.
O
assistencialismo que os vereadores praticam é, portanto, atividade eleitoreira,
não faz parte de suas atribuições precípuas que são: legislar, fiscalizar as
ações do executivo e discutir temas de interesse dos bairros que representam
para atendimento das necessidades coletivas, deixando a assistência social
individual a cargo dos organismos próprios.
Considerando-se
que o Brasil é um dos poucos países que mantém tais critérios de remuneração
dos vereadores, seria conveniente que a sociedade discutisse o assunto. E
também, que sejam debatidos exemplos de países que adotam outros sistemas sem
prejuízo à administração da cidade. Segundo informação da ONU, entre 181 dos
países filiados o Brasil é o único que remunera vereadores nos moldes que
conhecemos. Na maioria dos demais existem conselhos municipais cuja eleição ou
nomeação dos integrantes diferem, e a remuneração também.
Em alguns
países são apenas ressarcidas as despesas pessoais ocorridas em função do
desempenho do cargo, noutros há pagamento de jeton por sessão, gratificação,
ajuda de custo ou até mesmo nada recebem, como na Suécia, onde a atividade é
uma espécie de voluntariado em colaboração aos cidadãos e à administração da
cidade. Ninguém vive do cargo, todos têm suas atividades profissionais. E não
há notícia de que algum haja morrido de fome.
No Brasil já
foi assim, quando as Câmaras eram constituídas por Conselhos Comunitários
formados por representantes da sociedade não remunerados, que se dedicavam não
a fazer assistência social, mas sim discutir temas, assuntos e projetos de
interesse do município e de seus cidadãos.
Como desde
2009 tramitam no Congresso propostas de redução e até mesmo extinção dos
salários dos vereadores, é bom repensar e debater a questão para reforçar os
argumentos. O carreirismo e o alto preço das campanhas inibem cidadãos com
disposição para trabalhar, mas com poucas posses para enfrentar os
“profissionais” acabam desestimulados. Em consequência, cai o nível das
representações municipais, existe pouca renovação tanto de nomes quanto de
ideias, o que inevitavelmente redunda em prejuízos aos municípios.
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