O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) iniciou nesta semana a Operação Oriente com o objetivo de coibir a extração de madeira ilegal e a grilagem de terras na região leste da Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi, próximo ao município de Buriticupu, no Maranhão. Participam dos trabalhos 14 agentes do ICMBio, 17 policiais militares, 8 policiais federais e agente do Ibama, além dos servidores locais que dão apoio administrativo e logístico.

“A Operação Oriente é fruto de um esforço institucional para cumprir a legislação no sentido dos objetivos da criação da reserva biológica”, explica a coordenadora de Fiscalização substituta, Patrícia Farina. Nas reservas biológicas, o objetivo maior é o de preservação integral da fauna e flora e demais atributos naturais, sendo vedado o uso público exceto para finalidade educacional e de pesquisa. A Rebio do Gurupi é o lar de algumas das espécies mais ameaçadas do mundo como o macaco-caiarara (Cebus kaapori), endêmico da região, ou seja, só existe no lugar.

A Reserva Biológica do Gurupi é uma unidade com um longo histórico de pressões causadas, especialmente, pela extração ilegal de madeira, além de desmatamento para agropecuária e até plantações ilícitas. Com ações de fiscalização coordenadas, a equipe da Rebio tem tido sucesso em barrar boa parte dessas pressões nas bases Sul e Norte. Agora, os esforços estão concentrados na parte leste.

Nos últimos anos, os conflitos têm se intensificado na região, culminando com uma série de retaliações por parte dos criminosos que atuam na área. Incêndios de grandes proporções e até mesmo o assassinato de um colaborador do conselho da unidade foram alguns dos atos criminosos praticados no período.

De acordo com o chefe da unidade Evane Lisboa, a equipe da Rebio, com apoio de brigadistas e das instituições parceiras, como a Polícia Militar, enfrentaram ilícitos ambientais, invasão de terras e incêndios criminosos até janeiro de 2016. “Percebemos que só iriamos consolidar o leste da Reserva Biológica do Gurupi com uma atividade de proteção contínua e efetiva que desse resultados contundentes e objetivos”, explica Lisboa.

Com o apoio lado da Coordenação de Fiscalização (COFIS/CGPRO), a equipe gestora de Gurupi conseguiu articular parcerias, inclusive no trabalho de inteligência, para mapear crimes e infratores e consolidar uma estratégia efetiva de enfrentamento. Com as informações levantadas, a Polícia Federal já conseguiu efetuar várias prisões de infratores ambientais.

Importância científica

A Reserva Biológica do Gurupi foi criada em 1988, com a finalidade de proteger importantes áreas da floresta amazônica e espécies endêmicas. Junto com os territórios indígenas de Awá, Caru e Alto Turiaçu forma um mosaico de áreas protegidas que abrange quase dois milhões de hectares.

Atualmente esse mosaico é o último reservatório expressivo da biodiversidade no Centro de Endemismos de Belém e da Amazônia Maranhense – local singular, com alta biodiversidade e com significativa ocorrência de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção da flora e fauna.

A excepcionalidade desse mosaico também está associada a fatores antropológicos, pois abriga uma das etnias indígenas mais ameaçadas do mundo, os Awá-Guajá, que ainda possui grupos indígenas isolados caçadores-coletores.

Mais de 15 instituições de pesquisa desenvolvem trabalhos na área. Dentre elas estão o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG); a Universidade Estadual do Maranhão (Uema); a Universidade Federal do Maranhão (Ufma) e a Universidade Federal do Pará (UFPA) assim como os centros de pesquisas do ICMBio.

A Rebio do Gurupi abriga 46 espécies de mamíferos e aves com especial interesse para a conservação (ameaçadas de extinção e endêmicas), um número bastante expressivo que justifica a categoria reserva biológica. Dentre eles se destaca os macacos caiarara (Cebus kaapori) e cuxiú-preto (Chiropotes satanás), e a ave jacamim-de-costas-verdes (Psophia obscura), criticamente ameaçados de extinção de acordo com a lista oficial brasileira.

Fiscalização

Desde a criação do ICMBio, em 2007, Gurupi é alvo de grandes operações de fiscalização que têm como objetivo garantir a conservação dos recursos naturais e coibir as práticas ilegais. A primeira operação foi a Força e Soberania, deflagrada em 2007 pelo ICMBio, Ibama, Polícia Rodoviária Federal, Guarda Nacional e Polícia Militar do Maranhão.
O principal resultado foi a implementação da base operacional na parte sul da unidade. Em 2011, o ICMBio assinou junto ao governo maranhense um Termo de Reciprocidade, a partir do qual foi possível manter s policiais militares do Batalhão Ambiental de forma permanente na unidade, auxiliando a fiscalização e na proteção da Rebio do Gurupi.

A base operacional da porção norte foi adquirida em 2011, com a Operação Mauritia. Na ocasião, a equipe flagrou uma área de extração ilegal de madeira de mais de dois mil hectares. Desde maio de 2012, não foi detectada mais nenhuma outra extração de madeira cladestina na parte norte da Rebio do Gurupi.

A partir da Operação Oriente, que permitirá a implantação da base leste da Rebio do Gurupi, inclusive com ações aéreas, a expectativa é diminuir a ocorrência de ilícitos ambientais na região, sobretudo, exploração de madeira, desmatamentos, invasões e queimadas criminosas. A presença institucional permanente na região, além de coibir os crimes ambientais, também promoverá a saída espontânea de muitos invasores da região, a exemplo da experiência das outras bases implantadas.

Agenda positiva

Diante do cenário crítico causado pelas ocupações clandestinas e pelas queimadas, serão necessárias intervenções de curto, médio e longo prazo para a restauração ambiental da Rebio Gurupi. Dessa forma, a UC pode continuar sustentando a riquíssima biodiversidade da Amazônia Maranhense. Proteção de mananciais hídricos, recuperação das florestas, sua estrutura, composição, funções e relações ecológicas são ações de grande destaque no processo de restauração.

Por isso a Rebio Gurupi está fortalecendo parcerias com instituições de pesquisa, comunidades de produtores rurais, representações indígenas e detentores de florestas nativas no entorno da UC, a fim de reunir esforços para que a restauração das matas da Rebio Gurupi se transforme em oportunidades de renda e geração de trabalho em prol da conservação ambiental. “É uma agenda positiva num contexto socioeconômico marcado pela ilegalidade e desrespeito aos direitos humanos e ao meio ambiente, gerando alternativa econômica associada à proteção e não mais à destruição do Mosaico Gurupi”, finaliza Lisboa.


Comunicação ICMBio