Por. Luiz Carlos Borges
da Silveira.
A situação política brasileira continua complicada e mesmo sendo
ano de eleições majoritárias e proporcionais não há expectativa de melhora a
curto prazo, porque não se visualiza efetivo aceno de mudança pela urna,
que é o caminho na democracia.
Os brasileiros costumam culpar os políticos pela inadequada
condução do país e pelas mazelas existentes. Não deixam de estar certos, porém
esquecem – ou não se conscientizam – que também são responsáveis porque é o
voto que define quem vai exercer o comando da política e do gerenciamento
público. Se os mandatários não se revelam eficientes é evidente que a
responsabilidade é também de quem concedeu o mandato através do voto. Todavia,
pior do que votar mal é a omissão, pois isso é renegar o direito de cidadania.
É histórica a tendência de o eleitor demonstrar sua insatisfação
ou descrença votando em branco, anulando o voto ou simplesmente não
comparecendo para votar. Essa tendência, recorrente em épocas de crises
políticas, nos últimos tempos tem sido facilitada pelo uso das redes sociais
que potencializam a disseminação dessa insatisfação. Antes, o desejo era apenas
pessoal, isolado. Agora, com o compartilhamento, a ideia vai agregando pequenos
movimentos que se ampliam criando força e adesões. Circulam boatos e
‘correntes’ na internet conclamando os eleitores a não comparecerem à votação,
ou se comparecerem que votem em branco ou nulo. O resultado é preocupante.
Recentemente, na eleição suplementar para governador do Estado do
Tocantins, no primeiro turno quase metade do eleitorado não optou por
nenhuma das candidaturas, a abstenção, somada aos brancos e nulos chegou a
quase 50% dos votos. No segundo turno o percentual foi ainda maior, quase 60%,
ou seja, o candidato vencedor não alcançou representatividade, não obteve apoio
da maioria, foi eleito pela minoria. Outro fato semelhante ocorrido também em
eleição suplementar foi para prefeito de Cabo Frio (RJ), o candidato eleito perdeu
para os votos brancos e nulos.
Até nas pesquisas eleitorais nota-se essa atitude do eleitor.
Semana passada foi divulgada consulta para o pleito presidencial e as intenções
de nulos e brancos variaram entre 22% e 35%. Nessa mesma pesquisa nota-se que,
faltando pouco mais de três meses para a eleição, 59% dos eleitores não citaram
intenção espontânea de votar em algum candidato.
É reflexo do desencantamento do eleitor com a política e por
consequência o desinteresse. Entretanto, isso não contribui para melhorar a
situação.
Desde que se consolidou o processo de redemocratização, após o
regime militar, vem ocorrendo decréscimo no interesse participativo que tivera
ponto alto em marcantes campanhas como a das Diretas Já. Parece que o povo se
acomodou, acreditando que tudo estava resolvido. Sem movimentos fortes e
permanentes a vigilância enfraqueceu e aos poucos cresceu a deterioração dos
valores e dos princípios éticos até chegar ao ponto em que estamos.
E não será essa situação revertida senão com atitudes fortes,
participação e cobrança. Ignorar o problema ou dele fugir é atitude leniente
que só favorece aos maus políticos. O eleitor não pode incorrer no erro de
imaginar que votar branco/nulo ou se abster evitará que os maus políticos se
elejam, ao contrário, esses mesmo que estão aí se reelegerão ou virão outros de
iguais propósitos, pois sabem que o povo está alheio. A resposta é votar, e
votar bem, votar em candidatos com propostas sérias, que estejam comprometidos
com os anseios populares e revelem responsabilidade cívica para com o país.
Todavia, isso não acontece de repente, não se resolve em cima da
hora, na véspera da eleição quando os esquemas já estão armados. Por isto tenho
pregado, há muito tempo, a necessidade de efetiva participação em busca da
verdadeira renovação, promovendo-se o expurgo da política viciada, alimentada
por partidos cuja ideologia são alianças espúrias, interesses pessoais de
lideranças negocistas que agregam em suas bases políticos com ideal
interesseiro e aético que depois levam esses maus princípios para dentro das
instituições. E deve o eleitor ficar atento às siglas que mudam de nome para
apagar a imagem corrompida, porém continuam conduzidas com os mesmos
questionáveis ideais.
Defendo, também, que é necessário conscientizar e estimular a
juventude, despertando-lhe o interesse em participar. Dia destes tomei
conhecimento de dados que reforçam essa necessidade. O levantamento revela
queda no voto jovem, queda no número de títulos de eleitor expedidos para
jovens com idade entre 16 e 18 anos e que até junho deste ano, só 40% dos
jovens brasileiros nessa idade haviam tirado título de eleitor. O ingresso
espontâneo no sistema eleitoral é normalmente entendido como indicador da
vontade de participar politicamente dos rumos do país. A queda representa,
portanto, a decisão de retardar esse direito.
É importante transmitir à juventude seu significativo papel
político, pois a verdadeira política é um exercício diário, indispensável na
democracia. Acredito que a partir do voto seletivo veremos o surgimento de
novas lideranças depuradas, sem vícios e sem ideias ultrapassadas.
Portanto, a efetiva mudança política não virá pelo
equivocado tipo de protesto que menoscaba o direito do voto; virá, sim, pela
valorização do voto e pela decidida participação cidadã. A omissão abre
caminho aos oportunistas.
Luiz Carlos Borges da Silveira é empresário, médico e professor. Foi
Ministro da Saúde e Deputado Federal.
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