O professor de Biologia do IFMA Campus Buriticupu,
Reinaldo Cajaiba, recebeu Menção Honrosa do Prêmio CAPES de Tese edição 2019,
na área de Ciências Ambientais. A informação do resultado foi publicado
no Diário Oficial da
União de 6 de setembro. O Prêmio, instituído pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, tem por objetivo selecionar as
melhores teses de doutorado defendidas em todo território nacional. O professor
Cajaiba concorreu com outras 1.139 teses nas diversas áreas de conhecimento.
“Foi gratificante receber esse
reconhecimento”, afirmou o pesquisador. “É um ‘gás’ para os próximos trabalhos”, prosseguiu. “Isso comprova que fizemos um bom trabalho”,
celebrou.
A pesquisa
A tese de doutorado do prof. Cajaiba teve por título “Soil beetles assemblages as ecological
indicators in the neotropics: Implications for ecosystem conservation and
restoration”, cujo principal objetivo foi compreender como as ações do
homem poderiam estar interferindo nos serviços ecossistêmicos prestados pelos
besouros na Floresta Amazônica.
Segundo o pesquisador, há muita especulação sobre os
efeitos das perturbações geradas pelo homem na biodiversidade da floresta
amazônica, mas poucos estudos realizam esse monitoramento. “É essencial entender a resposta de
indicadores ecológicos à essa tendência, para aumentar a nossa compreensão dos
sistemas ecológicos, bem como para permitir previsões precisas das
consequências da ação humana sobre a biodiversidade e o funcionamento do
ecossistema”, explicou.
Por que estudar os besouros?
De acordo com o pesquisador, os besouros são considerados
excelentes indicadores das mudanças sobre os ecossistemas florestais. “Eles ‘informam’ se um determinado ambiente
está preservado, alterado ou até mesmo se ele está se recuperando de algum tipo
de perturbação”, afirmou o professor do IFMA.
Os profissionais que estudam ecologia conseguem fazer
essa constatação por meio dos padrões de distribuição das espécies, como
abundância, riqueza, composição e comportamento. “Além disso, os besouros
prestam excelentes serviços ambientais à natureza e homem, como a dispersão
secundária de sementes, polinização, auxílio no processo de decomposição de
frutos, fezes e animais mortos”, pontuou.
Resultados da pesquisa
“Nós verificamos
uma diminuição na riqueza de espécies, abundância e diversidade funcional nas
comunidades estudadas pelo aumento de distúrbios produzidos pelo homem nas
florestas nativas na Amazônia”, relatou. “Esses distúrbios antropogênicos podem alterar a composição das
comunidades, afetando os serviços ecossistêmicos prestados, como o decréscimo
nas taxas de decomposição de materiais orgânicos por meio de enterro e remoção,
desequilíbrio nas redes alimentares pela retirada de espécies-chaves associadas
à predação, herbivoria e dispersão de sementes e polinização”,
complementou. “Esses efeitos são
extremamente prejudiciais ao funcionamento dos ecossistemas amazônicos”,
assinalou Cajaiba.
Metodologia
A pesquisa foi realizada no estado do Pará entre os anos
de 2015-2016, em três diferentes épocas do ano: estação chuvosa, intermediária
e seca. “Realizamos coletas de campo em
áreas de pastagens, lavouras de cacau, florestas secundárias e floresta
primária”, explicou o pesquisador do Campus Buriticupu.
Para a coleta dos besouros foi utilizada um tipo de
armadilha chamada de “Pitfall”. “Nada mais é do que colocar um copo
enterrado no solo”, afirmou o professor. “Geralmente utilizamos uma garrafa pet de 2 litros cortada a
aproximadamente 15 cm e usamos a parte de fundo”, prosseguiu.
Também foram testados diversos tipos de iscas para
avaliar qual seria a mais eficiente para capturar os besouros. “Utilizamos fezes humanas, carne em
putrefação e melaço de banana, além de uma armadilha sem isca que serviria como
controle”, relembrou. Com essa metodologia, foi possível identificar os
besouros que se alimentavam de animais mortos, de fezes, de frutas e aqueles
que não tinham nenhuma preferência alimentar.
As armadilhas ficavam instaladas em campo por 48 horas.
Depois eram recolhidas e levadas ao laboratório para a triagem e identificação.
A parte mais complexa do trabalho era fazer a identificação dos indivíduos,
tendo em vista que a fauna amazônica é pouca conhecida. “Tivemos que contar com o auxílio de diversos taxonomistas que trabalham
no Brasil, além de outros que residem no exterior”, informou Cajaiba.
Futuro da pesquisa
Apesar de ter concluído o doutorado em 2018, a pesquisa
não parou. “Após a conclusão e durante a
realização da tese, verificamos que as amostragens deveriam ser realizadas em
áreas mais abrangentes, ou seja, não ficar restrita em apenas um estado ou
região da Amazônia”, ponderou o pesquisador.
Estão sendo realizados novos levantamentos em todos os
estados localizados que abrigam a Amazônia Brasileira para avaliar a resposta
dos besouros. “Este é o maior projeto
sobre o grupo que temos conhecimento para o Brasil”, afirmou o pesquisador
do IFMA.
As coletas foram ou estão sendo realizadas nos estados
Pará, Amazonas, Rondônia, Acre, Roraima, Amapá e Maranhão, distribuídas em 16
municípios, totalizando 129 áreas de estudos. Elas incluem áreas de floresta
primária, floresta secundária em diferentes estágios (variando de 05 a 60
anos), lavouras de cacau, atividades agrícolas de ciclo curto e pastagens.
O último estado a ser estudo é o Maranhão, área da
Amazônia Legal. “Aqui no Maranhão
iniciamos as coletas no segundo semestre deste ano e estamos com previsão de
concluir no final do primeiro semestre de 2020”, explicou Cajaiba.
Por Cláudio Moraes
0 comentários:
Postar um comentário