Por Antonio Noberto

O
historiador e palestrante Leandro Karnal disse em entrevista, que toda guerra,
revolução ou pandemia abrevia processos já existentes, a exemplo da aceleração
do uso de tecnologias, o trabalho home office, as reuniões por vídeo
conferência e a realização de lives. E outra tendência para o mundo
pós-pandêmico é aprender a viver melhor com menos recursos, simplificar e
ressignificar a vida e quase tudo em volta. E neste processo de
ressignificação, o estado do Maranhão poderá sair na frente se trabalhar a
contento e as suas vocações e potencialidades, especialmente no turismo. Foi
exatamente o que fez a Espanha no início da década de 90, quando investiu forte
no setor de turismo e em dez anos conseguiu quadruplicar seu PIB no segmento,
que saltou de quatro por cento para dezesseis. O investimento no turismo foi
tal monta que o país ibérico subiu posições e passou a figurar entre as sete
maiores economias do mundo, graças as estratégias aplicadas no setor.
A
Espanha nos ensina que precisamos voltar os olhos para o turismo, enxergar
nossas potencialidades e oportunidades. No Maranhão, a estratégia em um
primeiro momento é investir no turismo natural em paralelo com o
histórico-cultural. Investir no natural é a estratégia em curto e médio prazos,
vez que a pandemia está voltando as pessoas para a natureza, para as atividades
físicas, e também porque a retomada das viagens privilegiará roteiros de curta
distância e, portanto, dentro do próprio país. E o estado sendo rico em belezas
naturais, coloca-se em situação privilegiada. No plano do histórico-cultural,
ele deve ser preparado como nunca para ser o nosso carro chefe, vez que o
engenho humano, presentes nestes atrativos, voltarão a ser mais valorizados a
médio e longo prazos. E para isto será preciso abrir os olhos dos maranhenses
para o real valor da nossa história, quando São Luís comandou as ações nesta
parte do Brasil, tanto durante a França Equinocial, quanto no século do XIX,
período em que éramos a “quanta cidade brasileira”, nas palavras dos viajantes
Spix e Martius, que aqui chegaram no início dos anos mil e oitocentos.
Precisamos ressignificar e valorizar o legado dos nossos antepassados,
combatendo aqueles que sem a correta visão holística se deixam usar pela
política pérfida que busca desvalorizar o grande legado que nos foi dado por
aqueles que nos antecederam. E falando em legado e antepassados, eles tem a
receita para o crescimento e desenvolvimento do estado nos dias atuais. Só
precisamos fazer um exercício de humildade para entender que eles possuíam a
devoção ao trabalho e a virtude do conhecimento, qualidades que se traduziram
em produção e riqueza material. Eles venceram os obstáculos da época e se
tornaram grandes empreendedores, grandes ruralistas e industriais. Tudo começou
com o espírito elevado de Sebastião José de Carvalho e Melo (1699 – 1782), o
Conde de Oeiras, mais conhecido como o Marquês de Pombal, Primeiro ministro do
rei Dom José I, que reinou de 1750 a 1777. Foi ele quem lançou as bases para o
crescimento de Portugal e de suas colônias. O espírito judaico-empreendedor de
Pombal foi a senha para o nosso crescimento, que teve início com uma petição de
1752 da Câmara Municipal de São Luís solicitando ao governador Mendonça Furtado
a criação de uma sociedade autorizada a explorar o comércio. Daí surgiu a
Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, instalada no Centro de São
Luís a partir de 1755. Foi o divisor de águas para o estado, que nunca mais foi
o mesmo. As casas de palha ou de taipa foram, gradualmente, substituídas para
grandes casarões coloniais. Uma lei aprovada pela assembléia provincial
autorizou que os filhos dos maranhenses fossem estudar na Europa, fazendo assim
o casamento entre conhecimento e empreendedorismo.
Desta união resultou o
progresso, com o comércio pujante e intenso e, ao mesmo tempo, uma província
que sabia transpor questões menores e galgar espaço internacional.
No século
XIX, além de uma forte presença lusa, que negociava o grosso do comércio regional,
São Luís mantinha com seus gostos e gastos uma colônia de comércio de artigos
de luxo, ligada à França, e uma colônia inglesa, que vendia o conforto, através
das máquinas. Deste período glorioso restou o maior acervo colonial português
da América, o título de Atenas brasileira e o legado do empreendedorismo
daqueles que não aceitaram as cortinas de fumaça que os interesses localizados
tentavam impor.
Esse deve ser o espírito que precisamos absorver para fazer do
Maranhão novamente um lugar de liderança, onde maranhenses, brasileiros e
estrangeiros fizeram da sua capital La petite vile aux palais de porcelaine (a
cidadezinha dos palácios de porcelana).
Neste
período de depressão econômica que nos acomete, é importante lançarmos mão dos
ensinamentos e do espírito das outras gerações, especialmente aquelas que
fizeram do Maranhão um lugar vicejoso, onde o Brasil e o mundo para cá afluíam
em busca de oportunidades, qualidade de vida e de dias melhores.
*Turismólogo, guia de
turismo, pesquisador e escritor. Membro da Academia Ludovicense de Letras
(ALL); sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM);
membro da Luminescence Academie Française (Vale do Loite/França); membro da
Academia Vargem-grandense de Letras e Artes (AVLA) e curador da exposição
França Equinocial, em cartaz no Centro Histórico de São Luís.sindegturma
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