“Onde eu deixei a minha chave?”, pergunta o avô pela terceira vez. “Qual é mesmo a cidade em que nós moramos?” questiona a avó aos netos. “Vou almoçar porque ainda não comi”, afirma a tia logo após deixar o prato na pia. Essas cenas são comuns no cotidiano de quem tem Alzheimer, cujo sintoma corriqueiro é o esquecimento. Mas não é apenas isso.
A professora da Faculdade de Medicina de Açailândia (Idomed Fameac), Rayssa Gabrielle Castro Bueno, explica que o Alzheimer é uma doença neurodegenerativa progressiva. Ela costuma ter um início lento, mas que vai se acentuando, geralmente, após 20 anos dos primeiros sintomas.
Surgimento do Alzheimer
Rayssa explica que a doença acontece devido ao acúmulo de proteínas anormais na superfície dos neurônios, que prejudicam a atividade e promovem a morte de alguns destes, até por isso o nome “doença neurodegenerativa”. Infelizmente, ainda não é completamente esclarecida a causa desse acúmulo, mas sabe-se que a exposição aos fatores ambientais e inflamatórios aumentam o risco do surgimento da enfermidade. “Outro ponto importante é que esta é uma doença que pode ter o chamado “platô”, ou seja, a pessoa começa a ter os sintomas hoje, eles estagnam ou diminuem e depois de muitos anos ressurgem”, afirma a professora.
*Sintomas*
Os principais sinais do Alzheimer aparecem relacionados ao declínio cognitivo, orientação visuoespacial e raciocínio lógico, como passar troco errado, esquecer onde mora, não lembrar da própria idade, nome de parentes, não saber se situar em tempo e espaço nem determinar o local em que está. O paciente pode, também, demonstrar irritabilidade e certa agressividade que podem, inclusive, estar atreladas ao fato de que a pessoa se sente mal com os sintomas, o que acaba afetando o convívio social. “Ao se perceber os sintomas, é orientado, também, que o paciente busque um médico neurologista para que seja feito um acompanhamento. Posteriormente, serão feitos exames de imagem, de sangue e exames como mini estado mental para verificar se existe um comprometimento cognitivo ou não”, ressalta Rayssa.
*Fatores de risco*
Hoje, é possível, a partir de testes genéticos, descobrir o Alzheimer com 15 ou até 20 anos antes de a doença apresentar sinais de forma mais expressiva. Porém, embora a ciência esteja avançada a esse ponto, deve-se observar o estilo de vida e fazer as mudanças necessárias para evitar problemas maiores. “O estilo de vida da pessoa conta muito quando o assunto é o fator de risco que leva à patologia. A alimentação, por exemplo, a exposição aos radicais livres, os fatores inflamatórios que a pessoa pode ter ao longo da vida acabam por influenciar na presença dessas proteínas que ficam nos tecidos, como o neural, levando ao Alzheimer”, diz.
*Envelhecimento e Alzheimer*
De acordo com a docente, a doença costuma aparecer no envelhecimento ou piorar nesse período da vida. Muitas vezes, o Alzheimer acaba sendo confundido com sinais normais da velhice, como, por exemplo, o declínio cognitivo. Mas, existem exames que ajudam a fazer esse diagnóstico correto, junto ao surgimento dos sintomas.
No Brasil, o Ministério da Saúde estima que cerca de 1,2 milhão de pessoas tenham a doença e aproximadamente 100 novos casos são diagnosticados ao ano. Como o país está se tornando um “país de idosos”, quanto mais a população envelhece, mais aumentam os casos.
*Os cuidados com quem tem Alzheimer*
A professora Rayssa ressalta que a família precisa ficar atenta porque, se o familiar já é uma pessoa mais idosa, é possível que já exista certo grau de progressão da doença. Isso significa que o paciente vai apresentar os sintomas com maior frequência do que uma pessoa que está no início da patologia. Então, não é ideal que a família deixe o indivíduo sozinho, nem que o deixe sair de casa sem acompanhamento, isso para evitar acidentes e até mesmo que este se perca.
Outro ponto é que os familiares fiquem próximos à pessoa com Alzheimer para dar as medicações corretamente ao paciente. “Hoje, o SUS fornece as medicações para o tratamento da doença, o que é muito importante porque nenhum outro sistema de saúde público no mundo faz isso, e aqui no Brasil nós temos. Com o acompanhamento, é possível avaliar se o tratamento está funcionando, é possível saber se a pessoa está respondendo bem ou se algo precisa ser modificado, se os sintomas estão sendo controlados ou se estão progredindo. Tudo isso para dar mais qualidade de vida ao paciente, visando postergar os sintomas mais graves. A doença não tem cura, mas tem tratamento”, finaliza.
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