
Todos os que se aventuram na atividade político-partidária,
notadamente os candidatos, não estão imunes à crise. A política se tornou uma
atividade de alto risco. Exige-se muito dos candidatos aos cargos municipais:
que conheçam os problemas locais, que tenham trânsito com os governos, que
saibam comunicar-se, que atendam aos eleitores em tudo que precisarem, sempre
com simpatia e gentileza, e que ainda estejam dispostos a comprometer o seu
patrimônio pessoal, profissional e financeiro nesta difícil e incerta
empreitada. E isso tudo para o exercício, se vitorioso, de um mandato
temporário, com riscos permanentes de seu encurtamento, sendo que das suas
ações, omissões, opções ou mesmo nada disso, resultarão em processos que
perdurarão por muitos anos. Afinal, diz-se que se é prefeito por quatro anos e
ex-prefeito pelo resto da vida! Quem se atreve?
Depois de eleito, a responsabilidade só se multiplica:
implementar políticas públicas que atendam à uma sociedade heterogênea, potencializar
os parcos recursos, lidar com corporativismos dos mais variados, ser eficiente
e econômico, prezar sempre pela probidade, não desviar e jamais permitir
desvios ou favorecimentos indevidos, ter capacidade de comando e saber escolher
aqueles com quem dividirá a gestão são alguns dos atributos indispensáveis,
embora insuficientes. E, muitas vezes, nem se sabe se está fazendo isso correto
ou não!
E ainda se exige mais: que o eleito disponha de personalidade
apta a lidar com as mais ferrenhas críticas, cobranças e acusações, com os mais
variados questionamentos, julgamentos antecipados, preconceitos e as constantes
ameaças de processos, afastamentos e prisões; não se sabendo, muitas vezes, nem
o porquê da suspeita, da investigação, do processo e de outras ações dos órgãos
acusadores, em sua maioria sigilosas, e sem que o advogado tenha sequer acesso
ao seu inteiro teor ou possa rebater na mesma proporção.
Enfim, a atividade política-eleitoral, talvez mais do que nunca,
está a exigir grandes sacrifícios daqueles que almejam um cargo público. E
diante dessas dificuldades, dentre outras necessidades, o conhecimento das
normas que regulamentam as eleições se torna imprescindível para uma boa
campanha, evitando deslizes que podem implicar em impugnações, processos,
multas e até mesmo em cassação do mandato. A preocupação com a arrecadação e os
gastos das campanhas está no centro das normas que regulamentam as Eleições
2016, como que buscando inibir o que seria o germe propulsor da corrupção no
país. Mas, obliquamente, ao tempo em que se estabelecem regras e mais rígidas,
robustece-se a preponderância do Judiciário e do Ministério Público no processo
eleitoral e na política de forma geral.
Por mais emblemática que seja a conjuntura atual, não existe
saída adequada fora do regime democrático. Por mais questionados que estejam
nossos representantes, o voto popular, direto, universal e secreto continua
sendo a ferramenta mais legítima de outorga de poder. O povo é o titular do
poder, que o exerce através de seus representantes, com duração de mandatos
previamente definidos e competências repartidas, sempre com a opção de
destituí-los ou não. Devemos aprimorar os mecanismos de depuração dos
candidatos e de responsabilização dos eleitos, mas não podemos criar tantos
obstáculos que afastem os bons da política, como – ao contrário do que se
esperava – parece estar ocorrendo.
Melhor do que qualquer
ditadura é a alternância de poder; melhor do que os burocratas é o exercício do
governo por aqueles escolhidos pela população. Isto é uma conquista da nossa
civilização e não podemos retroceder. E devemos conhecer o direito eleitoral
para que o processo de escolha dos nossos representantes ocorra sempre com
respeito às regras, com igualdade de oportunidades, transparência e lisura. E,
para não macular a legitimidade dos pleitos eleitorais, devemos exercitar os
mecanismos de combate aos abusos políticos e econômicos e às condutas
irregulares.
Carlos Sérgio de Carvalho Barros
Advogado especialista em Direito Eleitoral
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