POR. EDMILSON SANCHES
Hoje faz 60 anos da
morte do construtor da BR 010, a rodovia Belém- Brasília e homem de confiança
do presidente Juscelino Kubitschek.
Fotos: Bernardo Sayão (à direita) e o presidente Juscelino Kubitschek. |
Em 15 de janeiro de 1959, às
19 h, em Açailândia (MA), morria Bernardo Sayão.
Na localidade denominada
Ligação, no estado do Pará, uma árvore (ou um pesado galho) caiu sobre ele, na
barraca em que estava (há versões de que Sayão se encontrava em um jipe).
Apesar dos gritos de
trabalhadores, o acidente foi fatal. Partes do corpo esmagadas; ossos expostos.
Mas -- conta-se -- Sayão, sangrando, mantinha-se de pé.
De helicóptero, foi levado
para Açailândia, onde deu seu último suspiro.
No dia seguinte, 16 de
janeiro de 1959, o corpo de Bernardo Sayão chega a Brasília, onde tinha
residência e onde seu corpo foi sepultado.
Foi o primeiro enterro no
cemitério cuja construção o próprio Sayão iniciara, quando ele, como
diretor-executivo da empresa pública Novacap, ajudava Juscelino Kubitschek,
presidente do Brasil, a erguer a nova capital do país. Sayão tinha 57 anos.
* * *
O engenheiro agrônomo
Bernardo Sayão semeava estradas e colhia cidades. Seu trabalho foi responsável
pelo surgimento ou dinamização de diversos municípios brasileiros, no Maranhão
e em outros estados.
Pessoa de grande estatura,
moral e física, construiu estradas, histórias, exemplos. Foi homem de confiança
do presidente Juscelino e líder na construção da rodovia Belém—Brasília, a
rodovia que deu vitalidade às comunidades por onde passava, em especial
Imperatriz e Açailândia.
A energia, o coleguismo, o
entusiasmo e a capacidade realizadora, tudo isso enfeixado em 1,84 m de altura
e tórax de respeitável largura compunha em Bernardo Sayão uma figura de pessoa
e personalidade incomum.
Bernardo Sayão Carvalho de
Araújo nasceu no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, em 18 de junho de 1901,
filho de João Carvalho de Araújo e Alice Sayão Carvalho de Araújo. Nessa época,
o Rio de Janeiro era a capital federal do Brasil.
Quando menino, já
demonstrava “ser amante da natureza, dos animais, enfim, de tudo o que Deus
criou”, como registra em livro sua filha Léa Sayão.
“Fazia acampamento no
quintal de casa e, adolescente, escalava o morro de 530 metros aos fundos do
colégio onde estudava, em Nova Friburgo (RJ)” -- relata a jornalista Conceição
Freitas, no "Correio Braziliense" de 17 de janeiro de 2001. O colégio,
o Anchieta, onde Sayão fez seu curso ginasial.
Não era de estranhar,
portanto, que Bernardo Sayão optasse por estudar Agronomia e Veterinária. Em
1929, formou-se em Agronomia pela escola Superior de Agronomia e Medicina
Veterinária de Minas Gerais, depois de ter estudado em outras duas grandes
escolas, a Escola de Agronomia Luís de Queirós (ESALQ), de Piracicaba (SP) e a
Escola Nacional de Agronomia do Rio de Janeiro.
Casou-se duas vezes.
Primeiro, com Lygia Mendes Pimentel, em 1925, quando ainda estudava em Belo
Horizonte. Com ela teve duas filhas, Laís e Lea. Lygia morre em 1935, aos 35
anos, e Bernardo Sayão passa cinco anos viúvo. Um dia, em uma barca de
transporte de pessoas, do Rio de Janeiro a Niterói, conhece Hilda Fontenelle
Cabral. Em 1941 saiu da viuvez e casou com Hilda, com quem teve mais quatro
filhos: Fernando, Bernardo Filho, Lia e Liliane.
*
Rio de Janeiro... São
Paulo... Minas Gerais... Paraná... Goiás... Brasília... Maranhão... Pará...
Amazonas... Mato Grosso... Tocantins... Por onde passou, Bernardo Sayão deixou
marcas de sua ação e personalidade. As cidades de Ceres e Rialma, no estado de
Goiás, devem sua existência ao trabalho de Sayão, que era o responsável pela
Colônia Agrícola Nacional, nomeado pelo presidente Getúlio Vargas, em 1941.
Consta que Getúlio se
impressionara com os comentários de um assessor sobre a capacidade de Bernardo
Sayão e prontamente convidou-o para implantar uma colônia no interior do Goiás,
como parte da “Marcha para o Oeste”, um plano de interiorização do desenvolvimento.
O assessor era Luís Simões Lopes, ex-colega de faculdade de Bernardo Sayão e
criador da Fundação Getúlio Vargas, uma das mais respeitadas escolas de
Administração e Economia do País.
No estado de Goiás, o
prestígio de Sayão era tanto que, em outubro de 1954, foi eleito
vice-governador, com total de votos superior ao do governador eleito, José
Ludovico de Almeida. Foi governador do Goiás durante três meses, no início de
1955.
Em 1956, como diretor da
NOVACAP (a Companhia Urbanizadora da Nova Capital), supervisionou a execução do
Plano Piloto na construção de Brasília. Depois, em maio de 1958, convidado pelo
presidente Juscelino Kubitschek, foi supervisor da RODOBRÁS (a Comissão
Executiva da Belém—Brasília).
Bernardo Sayão construiu
estradas e cidades. Por elas empregou todo o seu esforço, sua experiência, seu
dinamismo. Por elas deu a vida e por elas morreu. Isto aconteceu no dia 15 de
janeiro de 1959, no lugar de nome Ligação, no estado do Pará.
Naquele lugar estava sendo
construída uma pista de 1.500 metros, para receber, provavelmente, o avião do
presidente Juscelino. Uma árvore (acredita-se que um jatobá), que já estaria
morta e se mantinha amparada por cipós, acabou se soltando e caindo, acertando
lá embaixo Bernardo Sayão (há versão de que teria sido um galho que se
desprendera). Era perto de meio-dia e o engenheiro foi levado para Açailândia
(MA), onde aguardou inutilmente assistência médica especializada, que era para
vir de um hospital militar de Belém (PA).
Às 19 horas, o homem que foi
chamado de “O Último Bandeirante” deu o último suspiro.
Quando a notícia se
espalhou, as cidades à margem da estrada emudeceram. Surpresa e incredulidade:
contava-se que era a primeira morte na construção da BR. E logo quem!
Em Brasília, sem necessidade
de comunicado oficial, máquinas e braços pararam, panos pretos tremularam em
lojas e casas.
Surpresa e ironia: Bernardo
Sayão seria o primeiro a ser enterrado no cemitério da Capital Federal, o Campo
da Esperança, o mesmo que ele havia demarcado antes de se embrenhar nas matas
amazônicas para levar integração e desenvolvimento a um lado esquecido do
Brasil.
Em sua homenagem, Juscelino
Kubitschek deu o nome oficial de Rodovia Bernardo Sayão à BR Belém—Brasília.
O NOME
O nome Bernardo vem do
germânico "Bern-hard" e significa “urso forte” ou “forte como um
urso” ou, em sentido figurado, “guerreiro forte”. Também é nome de um santo --
São Bernardo, comemorado em 20 de agosto -- que fundou em 962 um mosteiro na região
dos Alpes (Suíça). Nesse mosteiro os monges aperfeiçoaram uma raça de cão de
até 75 cm de altura, pelagem densa, orelhas curtas e cauda comprida, que se
tornou famoso por socorrer pessoas perdidas na neve e vítimas de tempestades e
avalanches. É o cão "são-bernardo".
O PUNHAL
Bernardo Sayão tinha um
punhal de estimação. Andava sempre com ele. Era usado para pequenos serviços.
Com o punhal, Sayão até tratava pequenos animais encontrados na floresta e que
serviam de alimento, conforme testemunha Maria Divina da Silva Duarte,
grajauense radicada em Imperatriz. Dona Divina conheceu o engenheiro em
Açailândia; seu marido, Sady de Melo Duarte (já falecido), trabalhava com
Sayão, efetuando o pagamento do pessoal que construía a rodovia. Bernardo Sayão
chegou a frequentar a casa do casal, em Açailândia. Certa vez, Sayão quebrou o
punhal ao bater em um casco de jabuti, e dona Divina guardou o que sobrou.
CRONOLOGIA
1901 – Nasce Bernardo Sayão
Carvalho de Araújo, em 18 de junho, no Rio de Janeiro (RJ).
1925 – Casa-se com Lygia
Mendes Pimentel, em Minas Gerais.
1929 – Forma-se em
Agronomia, em Minas Gerais.
1935 – Morre sua esposa,
Lygia.
1939 – Visita pela primeira
vez o estado de Goiás.
1941 – Casa-se com Hilda
Fontenelle Cabral. Nomeado pelo presidente Getúlio Vargas diretor da Colônia
Agrícola Nacional, em Goiás.
1944 – Conclui, em dois
anos, a estrada de 142 km que liga Ceres a Anápolis (GO).
1950 – Exonerado do cargo de
administrador da Colônia Agrícola Nacional de Goiás.
1954 – Eleito
vice-governador de Goiás, pelo Partido Social Democrático.
1955 – Exerce interinamente
o governo de Goiás. Participa de comissão do Governo Federal para
desapropriação de terras.
1956 – Nomeado diretor da
NOVACAP, a comissão encarregada da construção de Brasília.
1958 – Nomeado, por
Juscelino Kubitschek, supervisor da RODOBRAS, a empresa responsável pela
construção da BR Belém—Brasília.
1959 – Morre, em 15 de
janeiro, às 19 h, em Açailândia (MA), após uma árvore cair sobre ele, na
localidade Ligação (PA). No dia 16, o corpo de Bernardo Sayão chega a Brasília,
onde é sepultado.
POR EDMILSON SANCHES
edmilsonsanches@uol.com.br
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